PERFIL: Morreu "o expoente máximo da música contemporânea portuguesa"
Aquando da entrega do prémio Pessoa, em 2000, Pinto Balsemão elogiou o compositor, considerando-o o "expoente máximo da música contemporânea portuguesa". E se para o grande público, o nome poderá não ser muito familiar, o facto é que as distinções internacionais e a atenção constante que teve a sua obra em instituições de referência como a Fundação Calouste Gulbenkian ou a Casa da Música elevaram Emmanuel Nunes à condição de nome maior da música portuguesa e europeia.
Prémio da Composição da Unesco em 1999, Comendador da Ordem de Santiago da Espada, a sua obra, repartida entre ópera, música para orquestra e música de câmara, coloca-se no centro da evolução de trabalhos como os de Karlheinz Stockhausen ou Pierre Boulez, marcada pela inclusão nas suas composições da música eletrónica e por uma grande riqueza sonora. "Para mim é mais importante saber o que não quero, do que saber o que quero", disse ele um dia.
Emanuel Nunes estudou harmonia e contraponto na Academia dos Amadores de Música de Lisboa e teve aulas particulares com Fernando Lopes Graça. Entre 1962 e 1964, frequentou os Cursos de verão de Darmstadt, na Alemanha, tendo a oportunidade de estudar composição com Henri Pousseur e Pierre Boulez. Mais tarde, em Colónia, tem aulas com Stockhausen.
A partir de 1964, exila-se em Paris, em busca de mais conhecimento e por oposição ao regime do Estado Novo. "Não havia mais nada que alguém me pudesse ensinar. E por isso saí do meu país. O meu estatuto político também me deixava inseguro e por isso passaram vários anos até regressar", afirmou numa entrevista.
Inicia a sua carreira como pedagogo, em 1974, como responsável pelas aulas de Iniciação à Composição do Século XX da Universidade de Pau, em França, mas irá lecionar na Escola Superior de Freiburg em Breisgau, Alemanha, na Escola Superior do Conservatório Nacional de Música e Dança de Paris e em Harvard, entre muitos outros locais. Trabalhou desde 1989 com regularidade com o IRCAM (Institut de Recherche et Coordination Acoustique/Musique) de Paris.
Os primeiros concertos da obra de Emmanuel Nunes têm lugar na Fundação Gulbenkian em Lisboa, em 1970 e 1971, mas a notoriedade vem com a estreia de "Ruf" pela Orquestra de Baden Baden e a sua apresentação durante o Festival de Donaueschingen de 1977. Entre as suas obras principais contam-se "Litanies du Feu et de la Mer" e "Voyage du Corps".
Ao longo das décadas de 80 e 90, do século passado, a sua obra foi passando a constar de agrupamentos importantes de música contemporânea como o Ensemble Modern ou o Ensemble Intercontemporain e apresentada em salas e festivais de todo o mundo, como os de Paris, Edimburgo, Bruxelas ou Zurique.
O Remix Ensemble, agrupamento residente da Casa da Música do Porto, tinha nos últimos anos uma ligação muito estreita com o compositor, nomeadamente através do seu agrupamento Remix Ensemble um papel desempenhado anteriormente pela Fundação Calouste Gulbenkian.